Encher a Despensa
Estamos no início do Outono e escolhi o tema da revista da “Bimby, Momentos de Partilha, para tema desta semana de receitas, dicas e sugestões: É Tempo de Encher a Despensa.
Em tempos idos, quando as nossas avós eram as matriarcas absolutas da família e o tempo se contava de outro modo, havia o costume de fazer compotas em casa. Conservas de tomate, de pimentos, de cebolas, pickes, chutneys… Armazenava-se, por assim dizer, em conserva, em frascos e caixas, o que seria difícil de encontrar no Inverno, quer porque a terra está em pousio, quer porque não havia à venda, já que o comércio era praticamente sazonal e, sem as grandes superfícies e os gigantescos centros de abastecimento, tornava-se difícil encontrar determinados víveres.
Além disso, havia tempo para fazer compotas. Falo em compotas, porque realmente sou muito gulosa e adoro doces! Havia o ritual de fazer marmelada com os marmelos da quinta, uma tarde inteira a descascar marmelos, para os transformar em tacinhas de marmelada que se cobriam com papel vegetal. E das cascas fazia-se a geleia. Horas a mexer com uma colher de pau para não pegar ao fundo do tacho…. O vagar ritualístico de remexer no caldeirão alquímico da cozinha …
Outros tempos que recordo com ternura. Hoje em dia é quase impensável sugerir a uma mulher, mãe, trabalhadora, vivendo na grande cidade, que passe uma tarde de sábado ou domingo fazer compotas, ou chutney, ou massa de pimentão ou licores, ou azeites aromatizados…. A vida agitada e apressada que vivemos hoje em dia não nos permite romantismos culinários. E nos hipermercados e estabelecimentos da especialidade, já podemos encontrar conservas de excelente qualidade que em nada ficam a dever, em sabor e aroma, às que as nossas avós faziam em casa.
Ainda assim, para as resistentes, para as irredutíveis, para aquelas que tem tempo livre, quer por opção, quer por imposição de condicionantes da vida (desemprego, mudança de vida, reforma, maternidade, etc), dedico esta semana a essas actividades que estão tão esquecidas nas grandes cidades. Na província, sei que ainda há muita gente a viver segundo o ritmo do ciclo da natureza, com as devidas adaptações à vida moderna… Mas na grande cidade tudo é muito rápido… Sugiro assim, um abrandamento, subtil mas firme, da velocidade com que entramos e saímos de uma e outra semana, correndo no tempo, muitas vezes sem sentido e sem encanto.
Esta semana, cá em casa, vou fazer umas compotas com frutas da época. Guardo algumas para consumo familiar e separo outras para oferecer no Natal. Vou também fazer marmelada. Dá para pôr no pão, servir com queijo da ilha nos almoços de família de Domingo e posso também rechear bolos.
Vou preparar alguns azeites aromatizados. E licores.
Claro que também abasteço literalmente a despensa com aquele tipo de mercearias que entretanto se acabaram e que convém ter sempre à mão: especiarias, sal, açúcar, vinagre, arroz, grão, massas, feijão, farinhas, leite uht…
Uma boa organização e planeamento da despensa poupa-nos imenso tempo em compras e ajuda-nos a gerir melhor a qualidade de vida, não só a nossa, mas também a da nossa família. Para já não falar do quanto é desagradável estar engajada num cozinhado e, de repente, verificar que lhe falta pimenta, sal, farinha ou leite. E lá tem que sair para ir comprar, perdendo tempo e quebrando o ritmo do que estava a cozinhar.
Vamos então, preparar o Outono e o Inverno e, tal como os diligentes esquilos, armazenar para, mais tarde, comer.