Pão-por-Deus
O Dia de Todos os Santos comemora-se no dia 1 de Novembro. É uma festa da liturgia cristã que comemora todos os santos e mártires que não eram celebrados em nenhum dia particular. Esta festa foi introduzida no calendário católico no séc. VII e realizava-se no dia 13 de Maio. Porém, no séc. VIII, o Dia de Todos os Santos passou a ser celebrado a 1 de Novembro para abolir uma festividade pagã festejada nessa data.
O Dia de Finados ou de Fiéis Defuntos comemora-se no dia 2 de Novembro, com data fixada no séc. XIII depois de, desde o séc. XI, os Papas Silvestre II, João XVII e Leão IX obrigarem a comunidade a dedicarem um dia para rezarem aos mortos.
Hoje em dia, quem ainda celebra estes dias, principalmente nas cidades, opta por fazer as suas visitas aos cemitérios no dia 1, que é feriado em todos os países católicos.
Em 1755, por ser Dia de Todos os Santos, as igrejas em Lisboa, estavam preparadas paras as cerimónias litúrgicas que tinham sempre muita afluência popular (neste tempo, a religião ligava, muito mais que hoje, o Homem a Deus) e as candeias e velas alumiavam a escuridão das almas que erravam ainda sem descanso, à procura de luz e orações.
Ninguém previa que o Terramoto e os incêndios que se lhe seguiram, destruíssem grande parte da cidade, matando milhares de pessoas, destruindo casas, plantações nos arredores da cidade e semeando o terror, a pobreza, a fome, a doença. A população, já pobre, mais pobre ficou.
E 1756, um ano depois do terramoto, esta população, com graves carências, mas sem vontade de baixar os braços e com a fé intacta nos Homens e em Deus, aproveitando a solenidade da data de 1 de Novembro e de forma espontânea, desencadearam um peditório por toda a cidade, afim de minorarem as dificuldades e a fome que se faziam sentir na cidade em ruínas. Iam de porta em porta, pedindo esmola, mesmo que fosse só “Pão por Deus”. Inicia-se assim, o costume de pedir, de porta em porta, o “Pão, pelo Amor de Deus”.
Esta tradição perpetuou-se no tempo e espalhou-se um pouco por todo o país, com variantes consoante as regiões e os costumes e tradições já existentes em cada zona.
Até meados do séc. XX o Pão por Deus ajudava a mitigar, de certa forma, as necessidades mais básicas de alguma população mais pobre, principalmente na zona de Lisboa mas em todo o país a tradição adoptou outras designações. Por exemplo em algumas terras mais a norte, o Pão por Deus chama-se o Dia do Bolinho.
Nos anos 60 e 70 do séc. XX, esta data começa a ser celebrada mais de forma lúdica, um pouco por influência de outras tradições anglo saxónicas – Halloween – e a partir dos anos 80, mais ou menos, já pouca gente se lembra desta tradição tão antiga, que se perde na memória dos mais velhos. Hoje em dia, as crianças pedem “doçura ou travessura”, mascaradas, à boa moda de terras do Tio Sam.
Há outras versões da origem desta tradição, principalmente as que remontam às antigas civilizações agrícolas celtas, cujo Ano Novo começa precisamente no dia 1 de Novembro. Na véspera, 31 de Outubro, a última noite do ano no antigo calendário celta, era celebrado como o final do Verão e da sua fertilidade. Era um festival que os celtas do Norte da Europa celebravam acendendo grandes fogueiras para auxiliarem o Sol durante o Inverno.
O Inverno, que evocava também a frialdade e a escuridão da sepultura, era a altura em que os fantasmas deambulavam e os espíritos dos mortos visitavam os vivos, pois acreditava-se que o véu entre os mundo dos mortos e dos vivos estava mais ténue nesta época.
De tradição em tradição, o Pão por Deus, hoje em dia, faz parte do património cultural de Portugal e de grande parte dos países católicos, já muito esquecido entre outros costumes que, entretanto, tomaram o lugar deste costume de pedir esmola para minorar a fome causada por uma catástrofe natural.