A doce partida do Verão
E pronto!! Agosto já se despediu, doce e lentamente, pois ainda recua alguns passos até este Setembro que vai quente e com sabor a férias. No entanto, estamos todos prontos para voltar às nossas rotinas, interrompidas pelo mês em que nos permitimos descanso, sol e mar, verde e risos, viagens e sonhos realizados e outros adiados e outros ainda só imaginados.
Quando era miúda, naquela idade em que não se olha para os calendários ou relógios para espiar o tempo, eu sabia que as férias chagavam ao fim e a escola estava quase a recomeçar, quando sentia aquele ventinho fresco ao final da tarde, junto ao mar. E a cama de rede, velha e ressequida pelos inúmeros verões da família, balançava como se dissesse adeus aos miúdos e ao cão que se tinham aninhado nela, a rir e a conversar tarecos de crianças felizes. A velha cabana, que servia de casa de férias, começava a deixar entrar os sopros frios do mar por entre as frinchas das paredes gastas pela maresia.
Apoderava-se de mim uma espécie de melancolia, que abrigava dentro da camisola que a minha mãe me dava já à saída da porta. Andava por ali, às vezes com o Tejo, o rafeirito da família,ou com os meus primos e irmão, a brincar na areia, com as conchinhas, o balde e a pá… Mas logo que podia, ficava sózinha, na rede, ou sentava-me no areal, a mirar o mar profundo e manso, sentindo o arrepio do final de Verão pelas costas acima… Daí a dias, já os brinquedos de praia, os fatos de banho e as toalhas iriam para o fundo do baú, onde passariam o Inverno, à espera do Verão do ano seguinte.
Uma das mais gratas recordações da minha infância é o tempo que passava junto ao mar, numa praia sem nome nem enchentes de veraneantes, com a minha família e o cão, numa cabana humilde mas rica de areal a perder de vista e mar quente e calminho, brincadeiras e livros de estórias de fadas, lápis de côr e folhas brancas onde garatujava desenhos impensáveis. O meu mundo de fantasia tinha uma porta naquela praia.
Na semana passada, últimos dias do final de Agosto, tive exactamente a mesma sensação de arrepio pelas costas acima, num dia sem sol e fresquinho, ali naquela hora encostada ao anoitecer. Vesti uma camisola, por sinal de riscas azuis e brancas, muito parecida com a que a minha mãe me dava, em criança, na praia… E aquela certeza que o Verão está a terminar trouxe-me novamente a antiga melancolia da despedida de Agosto.
E é mesmo assim: a Roda da Vida move-se como os ponteiros do relógio, lenta e imperceptívelmente, porém com a determinação da inevitabilidade do passar do tempo.
Hoje não vos escevi sobre cozinhados, nem nutrição, nem no regresso ás aulas com pequenos almoços saudáveis… Hoje partilhei um bocadinho de mim, em jeito de agradecimento a todos os seguidores deste sítio de receitas e estórias. Atingimos, há dias, os 8 000 seguidores na página do Facebook. Outros tantos e mais alguns registos no site.
O vosso carinho e fidelidade inspiram-me para partilhar mais e mais, para informar mais e mais e para trabalhar em ideias novas que chegaram, de mansinho, enquanto caminhava, descalça, pelo areal a perder de vista, do mês de Agosto.