Atlantis A Sul
Aproveitando um dos últimos feriados, fiz umas pequenas férias por terras do Sul. Curtas mas retemperadoras. Quatro dias de calma e tranquilidade junto ao mar, passeios, refeições partilhadas de afectos e risos.
Um dos meus passeios levou-me até Cabanas de Tavira. O dia tinha amanhecido nublado e ventoso e a visita prometida ao parente afastado tinha sido combinada há já algum tempo. Assim sem tempo cronometrado nem fatiado por compromissos ou deveres ou fazeres, ao final da manhã lá fui, calmamente, tomar o café da praxe e ler o jornal na esplanada junto ao mar, antes de iniciar o passeio que só terminou noite cerrada.
O destino era a Quinta das Cegonhas, na zona de Tavira. Como o tempo se conta de maneira diferente quando me afasto da grande cidade, quando dei por mim já andava à procura de sítio para almoçar. Cabanas de Tavira ficava em caminho. A ria Formosa, mesmo ali, tão linda e serena, trouxe-me recordações de férias ali passadas, há muitos anos atrás, com os meus filhos pequenos a correrem e a brincarem nas ruas tranquilas da aldeia de pescadores transformada, agora, em spot turístico de estrangeiros, apaixonados pelo nosso Sol e pelo nosso Mar.
A “avenida” marginal de Tavira é o ponto onde converge a maior parte dos restaurantes, cafés e esplanadas da zona. Um passadiço pedestre, mesmo junto à ria convida a caminhar e a meditar. No entanto o estômago já me avisava que estava na hora de, mais prosaicamente, procurar um restaurante para almoçar. A especialidade da zona parece que é o arroz de lingueirão. Não aprecio particularmente embora tenha imensos fãs, a avaliar pela quantidade de restaurantes que oferecem como sendo o “melhor deste mundo e do outro”.
Assim, fui andando e olhando os diversos locais com e sem esplanada onde poderia almoçar calmamente, apreciando a linda vista da ria e parei em frente ao Atlantis.
Que dizer do Atlantis? Quando entrei, fui recebida pelo Ricardo, chefe de sala e gerente que, com os seus olhos azuis e sorriso simpático, me indicou uma mesa central. Olhei à volta e percebi uma decoração despretensiosa e simples, com referências ao nosso Atlântico das viagens das descobertas. Em fundo, a música, calma, suficientemente audível para me fazer sorrir a cada acorde mas suave para não impedir a conversação, enchia a sala e acompanhava o zum-zum das conversas em várias línguas.
Percebi que era um local habitualmente frequentado por turistas. Fui, no entanto e ao contrário do que acontece em muitos locais no Algarve, atendida de forma exemplar e com um profissionalismo e simpatia inexcedíveis.
O almoço, uma paella de marisco, acompanhado por um excelente vinho branco, Alentejano, deixou-me satisfeita e agradavelmente surpreendida.
Palavra puxa palavra, e quando dei os parabéns ao Ricardo pela playlist e pelo atendimento, fui convidada a voltar à noite, com a promessa de um ambiente diferente e uma surpresa. A mesa ficou reservada de imediato, o trabalho de relações públicas ali, é levado a sério.
Como prometido voltei à noite. Não me lembro de alguma vez ter almoçado e jantado no mesmo restaurante. Mas voltei e quando entrei fui conduzida à minha mesa, junto à janela e com uma panorâmica total da sala. O cair do dia, na ria, a escuridão a invadir a água, ali tão perto e o ambiente festivo do interior do Atlantis faziam um contraste de conto fantástico. Ou então era eu, que de tão encantada e feliz estava, via tudo com as lentes-maravilha.
Tenho que confessar que o jantar não foi tão agradável como o almoço. A lista tinha sido mudada nesse dia e a “cozinha” enganou-se duas vezes no pedido. O vinho, tinto do Alentejo, sugestão da casa, ajudou a ultrapassar o incidente. Fica o reparo.
Não comi arroz de lingueirão mas deixo aqui a receita, para quem aprecia.
A surpresa foi realmente, o facto de haver musica ao vivo. Um cantor, amador e amante de cantorias românticas, de bossa nova, de jazz e da onda revivalista dos Beatles, cantou e encantou ao longo do período de jantar. Mais uma vez, a maior parte dos clientes eram estrangeiros.
O jantar chegou ao fim, paguei e saí, depois de ter conversado um pouco com a proprietária, Gina e com o simpático e disponível Ricardo. Ficou a promessa de voltar, numas próximas férias.
A localização é privilegiada, pela proximidade com a ria. Tem uma agradável esplanada, que deve ser “top”, em tardes de Verão.
Entre o almoço e o jantar, visitei a Quinta das Cegonhas, o que ajudou bastante a contribuir para o meu estado de espírito, encantado e maravilhado. Mas a Quinta das Cegonhas será uma outra história…