DERVIXE – Restaurante Turco. Ou como se conta uma grande mentira…
No passado sábado resolvi sair para jantar fora. Mal o tempo fica com ar sorridente e verdejante, ninguém me segura em casa ao sábado á noite!
O programa era “jantar e depois logo se vê”. Acabou por ser uma noite internacional: jantar no restaurante turco, tomar uma bebida num bar irlandês e acabar a noite a dançar numa discoteca africana! Não podia ser melhor!
No entanto, nem tudo foi bom e fiquei com um amargo de boca e uma tristeza no coração. Que querem? Reajo emotivamente e sou visceral quando se trata de coisas de afectos.
Passo a contar:
Escolhi o restaurante “turco” Dervixe ,para jantar. Na 24 de Julho. Penso que é o único restaurante “turco” em Lisboa. Já conheço este restaurante turco há alguns anos. Lembro-me que fui lá, pela primeira vez, no final de 2012.
Vivi na Turquia, em Istanbul, há alguns anos e quando soube que havia um restaurante turco em Lisboa, fiquei toda contente por poder voltar a degustar as iguarias turcas, a boa cozinha turca, tão mediterrânica e tão arábica, tão saudável e tão diferente da nossa, embora com alguns toques, aqui e ali, das mesmas influências que ainda se observam nos países do sul da Europa.
Pois bem, quando lá fui a primeira vez, percebi logo que este restaurante era uma cópia (mal) adaptada a Lisboa, das locanta, nome que se dá às tascas, na Turquia. Sem qualquer desrespeito pelas tascas! A melhor cozinha turca é a das locanta e comi, em toda a Turquia, nas minhas viagens pelo país, a verdadeira cozinha tipica do país!
Aqui no Dervixe, embora tivesse ficado, na altura, muito decepcionada, ainda assim, matei um pouco de saudades desse país que me acolheu e me acarinhou em todo o tempo que lá vivi. Havia alguns pratos confecionados ao jeito do povo, havia chá turco feito numa chaleira tipicamente turca e servido nos copinhos redondos e abaulados típicos da Turquia, havia até narguilé! E os empregados, um portugês e os outros turcos, eram chefiados pelo proprietário da altura (hoje não sei quem é o proprietário), que no final da refeição vinha ler as borras de café (café turco, feito segundo os preceitos do país). Uma ida a este restaurante, nos idos de 2012, 2013, 2014 ( a ultima vez que lá fui foi precisamente em 2014!) era sempre como entrar numa caricatura da Turquia, onde se reconhecem os traços fisionómicos dos país mas onde nos ríamos do exagero anedótico e patético da totalidade do rosto do dito. Ainda assim, este restaurante estava, neste tempo, sempre cheio, com filas de espera e onde era necessário reservar mesa, a a meio da semana, para jantar ao fim de semana. Maioritáriamente, grupos. Ruidosos, jovens, alguns menos jovens, mas todos muito animados, á procura de uma experiência exótica, gastronómina ou não, com o selo de um país pouco conhecido. Santos é já ali ao lado e a 24 de Julho, com os seus bares e toda a animação e loucura noturna, trazia clientela fácil de contentar.
Pois bem, estes anos passaram e outros restaurantes e outras experiências cruzaram o meu caminho e a minha vida.
No sábado bateu a saudade da Turquia e o Dervixe podia atenuar um pouco esse doce sentimento. Enganei-me… O sítio estava ás moscas, tirando uma mesa de quatro pessoas que estavam quase a terminar a refeição quando entrei. Subi ao primeiro andar, ocupei uma mesa com o meu acompanhante e comecei a ver a ementa, que pouco ou nada se alterou ao longo dos anos. Estava, talvez, mais simples… Pedi e o que me foi servido pouco ou nada tinha a ver com a que me seria servido em qualquer locanta turca. No entanto, o falafel estava bom e os legumes assados também, mas foram servidos com um arroz mais que lisboeta, do tipo de arroz que se serve com o bitoque. A salada que acompanhava era a típica salada de alce e tomate das sardinhas assadas. O frando do meu acompanhante, em espetadas, era acompanhado de arroz e batatas fritas. E viva a tradição portuguesa de juntar arroz e batata frita com todo o tipo de carnes!
A sobremesa seria Baclava, um tipico doce turco de massa filo, elaborado com nozes, xarope de açúcar ou mel e, segundo algumas versões, poderá levar pistache, pinhões ou sementes de sésamo. Em tempos comi lá um Baclava razoável, fresco e simples. o que me foi servido, no sábado, era tudo menos Baclava. Era uma espécie de folhado “mal amanhado”, deslavado, certamente tinha sido congelado e descongelado, que veio de braço dado com uma tacinha de gelado de chocolate. Que me lembre, não faz parte do Baclava, não.