O Trabalho
Desde pelo menos 1886 que se reivindica e se luta pelas 8 horas de trabalho diárias. Hoje é um dado adquirido, um direito e um dever dos trabalhadores. Claro que o paradoxo que é hoje a nossa maneira de viver, exige mais que as 8 horas de trabalho/dia para se obter a remuneração que nos permita usufruir dos bens materiais colocados à nossa disposição pela enorme e pesada máquina criadora de bens de consumo.
Mas entre todos os trabalhadores que lutaram e conquistaram a implantação da jornada de trabalho de 8 horas, houve inúmeras Mulheres, nem sempre lembradas pelos historiadores, que, após dias de trabalho, de protesto, ao lado dos seus companheiros de labuta, envolvidas, nas já longínquas, manifestações, plenários e outros eventos revolucionários que levaram à conquista do que temos hoje, em termos laborais, voltavam para casa e encaravam com pragmatismo o outro trabalho que as esperava: cozinhar, cuidar da casa, dos filhos, da gestão da empresa que é a família, sem esquecerem nunca o tempero que lhes permitia manterem-se como pilar estruturante da célula primária da sociedade, o afecto!
Hoje não é muito diferente na ainda grande maioria das famílias. As mulheres continuam a trabalhar (muitas vezes mais que as 8 horas/dia) nas fábricas, escritórios, lojas, nos campos e quando chegam a casa há que cozinhar o jantar, tratar dos miúdos, das roupas etc. etc. etc. Há algumas mudanças em relação ao final do século passado, claro! Muitas mudanças mesmo! Os homens hoje em dia já colaboram nas tarefas domésticas, já cozinham, já fazem as compras, já cuidam das crianças. Mas são ainda uma minoria no imenso universo de população trabalhadora. Para já não falar nas famílias monoparentais, resultado de divórcios, em que a mãe, de um modo geral fica com os filhos a cargo e quase sempre com mais dificuldades financeiras, e com toda a responsabilidade de trabalhar fora, cuidar das crianças, cozinhar todos os dias e por aí fora.
A palavra chave neste texto é “cozinhar”. Trabalhando fora ou não, com ajuda ou colaboração do companheiro(a) ou sem companheiro(a), mais ou menos consciente do direito de trabalhar as 8 horas remuneradas, com mais ou menos poder financeiro para ter uma ajuda extra em casa, a verdade é que cozinhar é um trabalho diário, comum a todas as culturas, raças, religiões, extractos sociais. Toda a gente tem que comer, mais ou menos, melhor ou pior e não acredito que haja alguém que nunca tivesse entrado numa cozinha para fazem nem que seja uma sanduiche ou para aquecer uma pizza num microondas.
Falo aqui muitas vezes do prazer de comer e cozinhar, do acto de nutrir com afectos, através dos cozinhados, do amor que se coloca em cada prato confeccionado seja para a família ou para os amigos, publico receitas, divulgo espaços gastronómicos, dou con
Por isso, hoje, quero aqui deixar a minha homenagem a todos os que trabalham horas extra, não remuneradas, em casa, após a sua jornada laboral, a cozinhar para as suas famílias. Sei que, apesar do cansaço, da falta de imaginação para variar os menus, às vezes dos poucos recurso económicos para cozinhar com qualidade, há sempre uma parte importante que não é esquecida e que faz toda a diferença para quem come e para quem cozinha: o Amor. Seja pelos filhos, pelo marido, pela esposa, seja por si própria.